Arquivo de setembro \29\-02:00 2010

Mulheres – Por Arnaldo Jabor

NINGUÉM MAIS NAMORA AS DEUSAS MULHERES

Outro dia, a Adriane Galisteu deu uma entrevista dizendo que os homens não querem namorar as mulheres que são símbolos sexuais. É isto mesmo. Quem ousa namorar a Feiticeira ou a Tiazinha? As mulheres não são mais para amar; nem para casar. São para “ver”. Que nos prometem elas, com suas formas perfeitas por anabolizantes e silicones? Prometem-nos um prazer impossível, um orgasmo metafísico, para o qual os homens não estão preparados… As mulheres dançam frenéticas na TV, com bundas cada vez mais malhadas, com seios imensos, girando em cima de garrafas, enquanto os pênis-espectadores se sentem apavorados e murchos diante de tanta gostosura. Os machos estão com medo das “mulheres-liquidificador”. O modelo da mulher de hoje, que nossas filhas ou irmãs almejam ser (meu Deus!), é a prostituta transcendental, a mulher-robô, a “Valentina”, a “Barbarela”, a máquina-de-prazer sem alma, turbinas de amor com um hiperatômico tesão. Que parceiros estão sendo criados para estas pós-mulheres? Não os há. Os “malhados”, os “turbinados” geralmente são bofes-gay, filhos do mesmo narcisismo de mercado que as criou. Ou, então, reprodutores como o Zafir, para o Robô-Xuxa. A atual “revolução da vulgaridade”, regada a pagode, parece “libertar” as mulheres. Ilusão à toa. A “libertação da mulher” numa sociedade escravista como a nossa deu nisso: Superobjetos. Se achando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor, carinho e dinheiro. São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades. Mas, diante delas, o homem normal tem medo. Elas são “areia demais para qualquer caminhãozinho”. Por outro lado, o sistema que as criou enfraquece os homens. Eles vivem nervosos e fragilizados com seus pintinhos trêmulos, decadentes, a meia-bomba, ejaculando precocemente, puxando sacos, lambendo botas, engolindo sapos, sem o antigo charme “jamesbondiano” dos anos 60. Não há mais o grande “conquistador”. Temos apenas os “fazendeiros de bundas” como o Huck, enquanto a maioria virou uma multidão de voyeur, babando por deusas impossíveis. Ah, que saudades dos tempos das bundinhas e peitinhos “normais” e “disponíveis”… Pois bem, com certeza a televisão tem criado “sonhos de consumo” descritos tão bem pela língua ferrenha do Jabor (eu). Mas ainda existem mulheres de verdade. Mulheres que sabem se valorizar e valorizar o que tem “dentro de casa”, o seu trabalho. E, acima de tudo, mulheres com quem se possa discutir um gosto pela música, pela cultura, pela família, sem medo de parecer um “chato” ou um “cara metido a intelectual”. Mulheres que sabem valorizar uma simples atitude, rara nos homens de hoje, como abrir a porta do carro para elas. Mulheres que adoram receber cartas, bilhetinhos (ou e-mails) românticos!! Escutar no som do carro, aquela fitinha velha dos Beegees ou um cd do Kenny G (parece meio breguinha)…mas é tão boooom namorar escutando estas musiquinhas tranquilas!!! Penso que hoje, num encontro de um “Turbinado” com uma “Saradona” o papo deve ser do tipo: -“meu”… o meu professor falou que posso disputar o Iron Man que vou ganhar fácil!.” -“Ah “meu”..o meu personal Trainner disse que estou com os glúteos bem em forma e que nunca vou precisar de plástica”. E a música??? Só se for o “último sucesso (????)” dos Travessos ou “Chama-chuva…” e o “Vai serginho”???… Mulheres do meu Brasil Varonil!!! Não deixem que criem estereótipos!! Não comprem o cinto de modelar da Feiticeira. A mulher brasileira é linda por natureza!! Curta seu corpo de acordo com sua idade, silicone é coisa de americana que não possui a felicidade de ter um corpo esculpido por Deus e bonito por natureza. E se os seus namorados e maridos pedirem para vocês “malharem” e ficarem iguais à Feiticeira, fiquem… igual a feiticeira dos seriados de Tv: Façam-os sumirem da sua vida!

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(Ex-Mulher) – Desconheço a Autoria

 Ela passou o primeiro dia empacotando todos os seus pertences em Caixas, engradados e malas.

No segundo dia, ela chamou os homens da transportadora que levaram a mudança.

No terceiro dia, ela se sentou pela última vez na bela mesa da sala de jantar, à luz de velas, pôs uma música suave e se deliciou com uns camarões, um pote de caviar e um garrafa de Chardonnay.

Quando terminou, foi a cada um dos aposentos e colocou alguns pedaços de casca de camarão, besuntados com caviar, dentro dos varais das cortinas.

Depois ela limpou a cozinha e se foi.

Quando o marido retornou com a nova namorada, tudo estava um brinco nos primeiros dias.

Depois, pouco a pouco, a casa começou a feder.

Eles tentaram de tudo: limpando, lavando e arejando a casa.

Todas as aberturas de ventilação foram verificadas à procura de possíveis ratos mortos e os tapetes foram limpos com vapor.

Desodorantes de ar e ambiente foram pendurados em todos os lugares.
A empresa de combate a insetos foi chamada para colocar gás em todos os encanamentos, durante alguns dias, durante os quais tiverem de sair da casa, e no fim ainda tiveram de pagar para substituir o caríssimo carpete de lã.

Nada funcionou.

As pessoas pararam de visitá-los.

Os funcionários das empresas de consertos se recusavam a trabalhar na casa.

A empregada se demitiu.
Finalmente, eles não suportavam mais o fedor e decidiram se mudar.

Um mês depois, apesar de terem reduzido o valor da casa em 50%,eles não conseguiram um comprador para a casa fedorenta.

A notícia se espalhava e nem mesmo corretores de imóveis locais retornavam as ligações.

Finalmente, eles tiveram de fazer um grande empréstimo do banco para comprar uma casa nova.

A ex-esposa ligou para o marido e perguntou como andavam as coisas.

Ele disse a ela o martírio da casa podre.

Ela escutou pacientemente e disse que sentia muitas saudades da casa antiga e que estaria disposta a reduzir a parte que lhe caberia do acordo de separação dos bens em troca pela casa.

Sabendo que a ex-mulher não tinha idéia de como estava o fedor, ele concordou com um preço que era cerca de 1/10 do que valeria a casa.

Mas só, se ela assinasse os papéis naquele dia mesmo.

Ela concordou e em menos de uma hora, os advogados deles entregavam os documentos.

Uma semana depois, o homem e sua namorada assistiam, com um sorriso malicioso, os homens da mudança empacotando tudo para levar para a sua nova casa…

…incluindo os varais das cortinas.

MANDAMENTOS DA MULHER

1 – Mulher não mente, e sim omite os fatos.
2 – Mulher não fofoca, mas sim troca informações.
3 – Mulher não trai, se vinga.
4 – Mulher não fica bêbada, entra em estado de alegria.
5 – Mulher nunca xinga, apenas é sincera.
6 – Mulher não grita, testa as cordas vocais.
7 – Mulher nunca chora, lava as pupilas dos olhos com freqüência.
8 – Mulher nunca olha para um homem sarado, apenas verifica suas formas anatômicas.
9 – Mulher não sente preguiça, descansa a beleza.
10 – MULHER NUNCA ENGANA OS HOMENS, PRATICA O QUE APRENDEU COM ELES.

 

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O Ator – Por Tati Bernardi

 

Estou dentro do carro há vinte minutos e ele não desce. Ligo e ele não atende. Ele sabe que estou aqui, eu disse que estava saindo. Ele então aparece, colocando o cinto na calça. Vejo um pedaço da barriga. Ele entra no carro e aperta meu braço. Eu vejo um pedaço do calcanhar. Eu vejo um pedaço da nuca e ela está vermelha, coisa de quem se enxugou rápido porque ficou enrolando pra tomar banho. Eu tenho um impulso de enfiar minha cara inteira dentro da camisa dele pra cheirar o centro do seu peito. Onde mistura o cheiro do amaciante, dos pelos e do desodorante que parece ter o cheiro das testosteronas dos deuses. Quando se está com um homem assim, eu lembro “meu deus, como eu gosto disso”. Eu não gosto de trabalhar, eu não gosto de mais da metade de tudo que eu como, eu não gosto de falar ao telefone, eu não gosto de ser paquerada, eu não gosto de festa de família, eu não gosto de acordar, eu não gosto de pagar conta, eu não gosto de muito mais da metade das pessoas que comprimento, eu não gosto das minhas roupas, eu não gosto de 80% dos papos que as pessoas querem começar comigo, eu não gosto de colocar o umbigo nas costas na aula de yoga, da minha vizinha que está sempre berrando com alguém ao telefone, eu não gosto da louça, do pessoal que me pergunta como faz pra trabalhar num sei onde, de listas de presentes. Mas eu gosto disso, eu vivo pra isso, eu acordo pra isso, eu trabalho pra isso, eu tomo banho pra isso. Isso é: esse momento em que eu coloco minha cabeça numa caixinha e sou inteira um animal predador que pode matar pra ter o que comer ao final. O cabelo dele é muito cabelo.

Ele tem uma covinha na expressão da boca. Não é onde as pessoas graciosas tem. É na expressão do sorriso. Ele parece desenhado por alguém minuciosamente grosseiro. Ele então começa seu festival de me adores. Ele é ator. E começa então com seu festival de me adores. Ele quer ser adorado. Ele tem mulheres mais bonitas e o que tenho de melhor ele nem tem muita capacidade mental pra valorizar. Mas ele sabe que tenho algo diferente e que é legal ser adorado por uma garota que tem algo de diferente. E eu o adoro. Ele fala sobre o horário da madrugada que acordamos com um frio no estômago. É um texto que recebeu e tem que decorar para uma leitura. Ele não consegue explicar nada sobre o texto. Ele me pergunta porque almoçar é com ç e almocei não. E isso, dito por um deus grego, me parece um tratado profundo sobre a humanidade. Não importa, amor. Basta saber que seu gigantesco ombro ultrapassa os limites do banco do carona e vai o caminho inteiro roçando em mim. Ele se demora no cardápio. Ele adora as refeições semanais nas quais uma garota com olhos enormes pra cima dele, presta atenção quase que religiosa a tanta baboseira. Ele conta em detalhes sobre a peça e a outra peça e a novela e o filme e as famosas todas que ligam pra ele o tempo todo e os produtores e esse papo que nunca quer dizer nada a não ser sobre ele próprio enquanto ator. Eu escuto nononononononononono. Não, não é isso. Eu escuto música clássica.

E torço para que o tormento acabe logo. Vamos logo pra casa. Me conte tudo isso pelado, que tal? Eu juro que escuto tudo, dou minha opinião e de repente até te escrevo uma peça inteira na qual você, nu…Eu só penso nele pelado. Ele é uma linda moça chata e eu um macho encantado pelo filme mais lindo do cinema mudo. Enquanto ele tenta concluir frases, eu me pego pensando “se ele não quiser ir pra minha casa, não vou pagar a droga da conta. Se ele não quiser ir pra minha casa, eu vou tentar no carro e eu…eu vou ficar louco se ele não quiser ir pra minha casa”. A ereção da mulher é ainda mais forte porque não tem fim. É no buraco da existência. Ele pede o décimo café e quer falar mais e contar mais. E encosta em mim, gosta de sentar colado, e fala ao meu ouvido, e mexe no meu cabelo. Me adore, eu sou ator, me adore. Sim, querido, muito, muito. Em casa, ele deita no sofá, sou sempre eu que tenho que começar tudo. Eu que faço a massagem, o carinho, eu que mordo, assopro, lambo e mais esse monte de coisa. Quase tenho saudade da entrega perfeccionista que só os feios e os pobres têm como qualidade. Mas passa rápido. Ele pede, reclama, dorme, acorda, pede mais. Sim, querido. Deixa tudo comigo, apenas exista. Pessoas como você apenas precisam existir e nada mais, pessoas como você podem tudo, até escrever almocei com ç. Aliás, você tem razão, almoçei é a coisa mais linda que já vi na minha vida.

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Esses dias como HOJE. –

Em alguns momentos é preciso ter muita paciência.
Nem sempre as coisas são calmas, mornas.
Muitas vezes elas gelam ou esquentam demais.
Na verdade, nunca gostei do morno, do sem gosto, do sem graça.
Gosto do que tem vida, de paz.
Talvez por isso tudo em mim queima e arde.
Acho que a vida é uma gangorra.
Em alguns dias você está bem, em outros nem tanto.
E assim vai indo, alternando, ganhando e perdendo.
Tem alguns períodos, bem específicos, em que você dá mais do que recebe.
Já em outros você precisa receber mais do que dá.
Não existe uma tabela pra isso, não tem data certa, simplesmente acontece, afinal, tudo é uma troca.
Vivo dando atenção e carinho para quem é importante pra mim.
Modéstia à parte, sou muito boa para quem eu amo.
Muitas vezes (erro?) me preocupo mais com o outro do que comigo.
Sei que primeiro a gente deve cuidar da gente, mas é inevitável, me preocupo.
Só que muitas vezes eu preciso de cuidado e atenção e não sei pedir.
Sei lá, acho que a pessoa tem que se dar conta.
Não dá pra querer que o outro perceba o que você quer ou precisa, sei disso.
Mas prefiro não falar nem pedir, por isso simplesmente deixo.
Então, vejo que a pessoa não se deu conta e isso me emputece.
Errado?
Sim.
Mas não acerto sempre, nem quase sempre, nem nunca.
Eu vivo errando, afinal, a gente tá aqui pra isso, não é?
Para errar, fazer certo, buscar o que nem sabemos direito.
 A grande questão é que de vez em quando eu preciso que me cuidem.
Cansa cuidar sempre.
De vez em quando é bom ficar de pernas para o ar, sem se preocupar com nada, recebendo carinho, atenção, mimo.
Entenda, atenção não é estar colado.
Você pode dar atenção e cuidar de quem ama mesmo de longe.
O importante é saber que o outro está se sentindo cuidado.
Principalmente na TPM, quando eu fico insuportável, tudo é pouco e nada é suficiente.
(Clarissa Corrêa)

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Pés no Chão – Ana Jácomo

Algumas pessoas se destacam para nós
(…)
Não importa quando as encontramos no nosso caminho.
Parece que estão na nossa vida desde sempre e que mesmo depois dela permanecerão conosco.
É tão rico compartilhar a jornada com elas que nos surpreende lembrar de que houve um tempo em que ainda não sabíamos que existiam.
É até possível que tenhamos sentido saudade mesmo antes de conhecê-las.
O que sentimos vibra além dos papéis, das afinidades, da roupa de gente que usam.
Transcende a forma.
Remete à essência.
Toca o que a gente não vê.
O que não passa.
O que é
(…)
Com elas, o coração da gente descansa.
Nós nos sentimos em casa, descalços, vestidos de nós mesmos.
O afeto flui com facilidade rara.
Somos aceitos, amados, bem-vindos, quando o tempo é de sol e quando o tempo é de chuva.
Na expressão das nossas virtudes e na revelação das nossas limitações.
Com elas, experimentamos mais nitidamente a dádiva da troca nesse longo caminho de aprendizado do amor.

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Cegámos

“De festa foi o banquete da manhã. O que estava sobre a mesa, além de ser pouco, repugnaria a qualquer apetite normal, a força dos sentimentos, como em momentos de exaltação sucede sempre, tinha ocupado o lugar da fome, mas a alegria servia-lhes de manjar, ninguém se queixou, mesmo os que ainda estavam cegos riam como se os olhos que já viam fossem os seus. Quando acabaram, a rapariga dos óculos escuros teve uma ideia, E se eu fosse pôr na porta de minha casa um papel a dizer que estou aqui, se os meus pais aparecerem poderão vir procurar-me, Leva-me contigo, quero saber o que está a acontecer lá fora, disse o velho da venda preta, E nós também saímos, disse para a mulher o que tinha sido primeiro cego, pode ser que o escritor já veja, que esteja a pensar em voltar para a casa dele, de caminho tratarei de descobrir algo que se coma. Eu farei o mesmo, disse a rapariga dos óculos escuros. Minutos depois, já sozinhos, o médico foi sentar-se ao lado da mulher, o rapazinho estrábico dormitava num canto do sofá, o cão das lágrimas, deitado, com o focinho sobre as patas dianteiras, abria e fechava os olhos de vez em quando para mostrar que continuava vigilante, pela janela aberta, apesar da altura a que estava o andar, entrava o rumor das vozes alteradas, as ruas deviam estar cheias de gente, a multidão a gritar uma só palavra, Vejo, diziam-na os que já tinham recuperado a vista, diziam-na os que de repente a recuperavam, Vejo, vejo, em verdade começa a parecer uma história doutro mundo aquela em que se disse, Estou cego. O rapazinho estrábico murmurava, devia de estar metido num sonho, talvez estivesse a ver a mãe, a perguntar-lhe, Vês-me, já me vês. A mulher do médico perguntou, E eles, e o médico disse, Este, provavelmente, estará curado quando acordar, com os outros não será diferente, o mais certo é que estejam agora mesmo a recuperar a vista, quem vai apanhar um susto, coitado, é o nosso homem da venda preta, Porquê, Por causa da catarata, depois de todo o tempo que passou desde que o examinei, deve estar como uma nuvem opaca, Vai ficar cego, Não, logo que a vida estiver normalizada, que tudo comece a funcionar, opero-o, será uma questão de semanas, Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem.”

(José Saramago)

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“REFLITÃO”

Sou um pouco radical com algumas definições.

Para mim, as pessoas são divididas em duas categorias: egoístas e não-egoístas.

É claro que o egoísmo possui alguns níveis.

Mas essa palavra me soa mal, me causa antipatia e até uma espécie de arrepio.

Acho que o egoísmo é um grande defeito.

Concordo que a gente tem que se amar, procurar deixar a autoestima sempre dentro da bolsa, mas até o amor por nós mesmos precisa de freios.

Quem se ama demais não consegue amar outra pessoa.

Fico chateada quando as pessoas esquecem das coisas.
Eu sei que a gente não deve esperar retribuição, mas algumas coisas precisam ser pagas na mesma moeda.
Quer um exemplo?
Você é bem amiga daquela amiga.
A bendita passa por mil e um problemas e durante mil e uma noites aluga seus ouvidos com problemas e problemas e problemas sem fim.
Você, solícita e boa gente, ouve.
Então, a maré ruim dela passa, fica tudo numa boa, ela está faceira, feliz no amor, no emprego, na vida, cheia de boas notícias e coisas legais acontecendo e simplesmente te esquece, não dá a menor satisfação, não participa novidade alguma.
Você se sente uma palhaça, afinal de contas, na hora em que ela precisava lá estava você, agora que ela está numa nice tá-nem-aí-para-a-bocoió-que-ouvia-ouvia-ouvia.
Você acha exagero meu?
Eu não acho.
Amizade se paga com amizade.
 
Sou legal com quem é legal comigo.
Falta de consideração se paga com falta de consideração.
Não sou legal com quem não é legal.
Olha, me desculpa, mas essa coisa de vamos-ser-todos-legais não é pra mim.
Sabe por quê?
Eu cansei.
Cansei de ser bobinha, sem maldade, sem malemolência.
Agora, eu jogo o jogo.
A gente precisa ter um pouco de malícia para compreender as pessoas.
Depois de muito tomar na cara, é difícil eu me enganar.
Sei exatamente com quem posso contar, pra quem posso chorar, pra quem posso desabafar.
E quer saber?
Penso bem antes de sair por aí pegando o telefone e ligando para meus amigos.
Primeiro, tento resolver comigo mesma.
Depois, desabafo.
O mesmo acontece com quem só consegue falar de si mesmo.
Você deve conhecer, com sorte, apenas uma pessoa assim.
Eu conheço várias.
Tem gente que adora ser a manchete da própria vida.
Gostam de ibope, por isso dão em primeira mão sempre as principais notícias do dia.
Eu isso, eu aquilo, eu aquilo outro, eu, eu, eu.
Tenho uma conhecida que mal me enxerga desata a falar de si.
Fala, fala, fala, fala e em momento algum pergunta se estou bem, como vai meu papagaio, etc.
Tem também aqueles que adoram contar o que compraram, quanto ganharam, quantos carros têm na garagem, para onde viajaram, etc.
Há ainda os que, de tanto eu, não conseguem ser nós.
São aqueles que volta e meia olham para o próprio umbigo, não conseguem compartilhar, dividir, somar, multiplicar.
Não conseguem fazer pequenas gentilezas e agrados.
Não têm tempo para pensar no que o outro quer e espera.
Não conseguem parar e pensar no sentimento de quem está ao lado.
E muito menos fazer coisas simples, pequenas.
Quem não consegue fazer pouquinho jamais conseguirá fazer muito, mas os egoístas só fazem muito por eles mesmos.
E ponto final.
(By Clarissa Corrêa)

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Por Ana Cristina César

“A teus pés”, marginais correndo por dentro de nossos conflitos…

“Inéditos e dispersos” descobrindo o nome que tem

A teu Rio que espeta liberdade e inventa a referencia das provas

Das tuas “Luvas de pelica” que tão bem marcam o inferno de tua passagem

Da cara fria que brota larva poesia
E assume plumas duma geração “mimeografo”
Da puta que sangra com versos nos dentes
E “pousa” nua sob qualquer lente gratuita
Poeta que ninava e dormia com marginais
Bagunçava cabelos, seios, coxas e sexos
Trepava com as ruas e praças públicas
Gozava na ereção da arte barata
E excitava o órgão poético de todos sedentos
Marginal integrante da quadrilha de Leminski, Cascaso e Torquato
Sob o chão do povo, abrindo antigas prisões
Com pés, punhos e versos revoltados
Jogando fora a sobra da roupa domesticada
Cortando e travando a doença
Recuperando o nojo que desbota a elitização
Abolindo a poesia
Jogando na rua, pro povo, pra todos!
Unificando arte e revoluções
Queimando o censor anestesiado dos que vendem sua arte
Eu-poeta
Versos-para túmulo incerto
Ingênua-desavergonhada
Morrendo além de escamas nas palavras que há
Ânus melado e promiscuidade verbal
Transgressora sem teto
Vestida de militante para pisar em nova arte
Cuspida na cara dos amantes lucrativos
Gozo compartilhado por poetas, atores, miseráveis e irmãos…
Vida longa a marginalidade dos poetas!

Ana Cristina César foi uma das pioneiras do movimento de literatura marginal, participando da “geração mimeografo” contra a elitização literária e ao lado de outros grandes artistas marginais da década de 70. Nasceu e morreu para poesia do povo, cometendo suicídio em 1983.

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– Resposta ao tal e-mail (dele) que me emocionou –

 
 
 
Um dia conheci um menino.
 
Ele sentou-se ao meu lado num bar chamado Marajá, e eu lembro de não ter sido nada amável com ele.
 
Mesmo assim ele insistiu numa possível amizade (ainda não sei bem o porque, mas ele deve ter me achado diferente.), e daí em diante fez uma viagem comigo.
 
Nossa viagem é ainda curta, porém intensa.
 
O curioso é que em momentos chatos (que eu vivi), ele se apressou em sorrir para mim e após esse período me deu um grande presente.
 
Nem esse menino sabia que o presente teria tanta importância e significado pra que eu descobrisse novamente: o amor em mim.
 
Sempre gostei dos romances existenciais, e sempre os escutei (em histórias de outros personagens), para não me esquecer do outro e para lembrar que só existe vida quando ela é contada e que, se há algum sentido na existência é na narrativa que ele acontece.
 
Com a chegada desse presente passei da fase de ouvinte, para que minha história se reescrevesse numa fala amorosa.
 
Algumas vezes me pego bastante assustada e comovida com todo esse amor.
 
E então começo a me lembrar do que papai falava para um primo que morou um tempo conosco: Marcos, a existência é devir”.
 
Seu Luiz Augusto foi embora cedo de mim, mas deixou cravado em minha alma essa coisa de reeditar insistentemente as histórias.
 
Bom, sobre o presente.
 
Ah, ele tem 1.75 (socado na terra é, claro!), um cheiro estonteamente sensual, o qual eu nunca senti em ninguém.
 
E sua incrível genialidade e bom humor pesou muito, desde o início.
 
Com ele já me senti descendo ao inferno, mas o melhor disso foi poder voltar de lá segurando em sua mão, com a promessa que tinha amor e tudo dali em diante seria de verdade.
 
Esse presente é para mim a mais pura poesia.
 
E o presente (ao seu modo, e eu creio que já conheço no íntimo) me remete a um “mestre”:
  • Hemingway, um dos meus escritores preferidos, que viveu a vida intensamente, sorvendo tudo até a última gota, e escreveu coisas brilhantes.
 Enfim, esse presente se parece muito comigo.
 
Amigos dizem que nossa química é assustadora, de boa.
 
Confesso que muitas vezes me pego com a questão de: “e se ele se for de mim?”…
 
Me calo com: “vai ser infinito agora, enquanto durar”, pois Anderson é uma espécie de homem “maldito” e iluminado- daqueles que jamais serão superados.
 
Tenho 3 bons exemplos de homens na minha história: Papai, Vovô Ari e um irmão chamado Leo.
 
Todos com características que lhes são bem peculiar.
 
E essas características estão aglomeradas na pessoa do meu futuro marido: original, audacioso, polêmico, marginal.
 
São esses tipos os que me fazem rir, pensar e, principalmente: SER FELIZ.
 
Dois já se foram (papai e vovô), mas são pra mim e quem pôde conviver com eles: lendas ainda vivas.
 
Já Leo e Anderson, são a minha felicidade no dia de hoje.
 
Eles me mostram a cada minuto que a vida não é coisa lá que se retenha ou se compre.
 
Anderson, meu amor, vc é daqueles que nasceu sabendo que o intervalo entre o nascimento e a morte é mesmo absurdo e misterioso.
 
E com seu jeitinho sabe secretamente que a gente só vive “se contando”, porque do contrário (sem nossos enredos inventados), não poderíamos encarar esse intervalo de crueza inquietante e angustiada do viver.
 
Obrigada por estar na minha vida, fazendo-a muito mais feliz.
 
Ao seu lado sigo com meu coração em desatino, flutuando no oco das palavras e tateando o mistério da vida.
 
Estar com você é um “momento” tão especial, que marca minha alma e corpo para que minha consciência do fim, só me leve a contar essas e outra histórias.
 
Foi ao seu lado, meu presente que entendi o recado do poeta André Comte:
 
“Trata- se de preferir a vida como ela é, com suas dificuldades, com seu quinhão de horrores às vezes, mas também com seus prazeres, suas alegrias, seus amores; aceitar e amar a vida como ela é mais do que esperar uma outra.”
 
Enfim, em cada palavras dessa que escrevi, há fragmentos das várias vidas que me atravessaram e construem o enredo de minha vida e o meu discurso no mundo.

Nesse calor de fim de tarde aqui em Moema, vou costurando esse e-mail com lágrimas e dessas narrativas, onde me cubro para não desaparecer no abismo de mim, lembro com ternura do menino que me presenteou com O AMOR!

 Obrigada Leo, não mais me interrogarei sobre esses momentos tão essenciais e ternos.
 
É isso: A vida é mesmo coisa muito frágil e, talvez não tenha mesmo muito sentido….
 
E nessa narrativa onde ficção e realidade se tropeçam e se confundem, sigo escrevendo no céu do absurdo, o meu movimento em descompasso apaixonada por Anderson.

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06 de Setembro – Feliz aniversário, Anderson

Meu amor

Resolvi aproveitar essa data especial pra falar alguma coisa aqui que pudesse marcar o momento. 

Pensei em falar algo que não se fala todo dia.

Nada de “Eu te amo”, ou “Você é a melhor coisa da minha vida”, isso é comum e soa clichê.

Pensei, então, em discorrer sobre o quanto você é especial e mudou completamente minha vida.

Talvez, a respeito de todos os pontos que fazem de você, perfeito pra mim em cada mínimo aspecto. 

Quem sabe, até mesmo algo sobre a existência do tal destino, que nos manteve perto durante a vida, apenas pra juntar no momento em ambos mais precisávamos.

Nada disso pareceu suficiente.

Diante da certeza de que nada que eu diga seria suficiente para expressar o que sinto por você, me resigno aos clichês: EU TE AMO! 

Obrigada por tudo que você me trouxe.

Obrigada por ser quem você é, e fazer de mim quem eu sou. 

Feliz aniversário!!!

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